Escrita Cotidiana

costurando..

terça-feira, 14 de agosto de 2012

(vazio preenchido)

Deitada no chão, em cima da cidade. Isso mesmo, deitada no chão e bem em cima de toda cidade. Enrolada a um cobertor de pelúcia clara, quente, aveludado. Deitada no chão por opção. Era gente com documento, com casa, com família, era gente considerada normal na sociedade organizada. Estava entregue ao chão sob a cidade, inteiramente. Já não incomoda mais os curiosos de plantão que riam por ter alguém assim deitada no chão por opção. Um vento frio bateu no rosto, despenteando as idéias, passando-as como nuvens que mostram e recolhem o céu. As idéias eram simples e preenchiam tudo dentro, cada desenho formado, e depois, minuciosamente transformado com uma riqueza de detalhes e sentidos sem sentido, mas que faziam completo sentido naquele momento em que era preciso sentir algo... nem mais nem menos importante que outras coisas que as pessoas ou ela mesma considerava importante.. no entanto, era simples como um peixe, como um cabelo black, um cachorro, um lobo com dentes e garras afiadas, um mar, um olho, dois cavalos, duas pessoas se olhando, uma bola de algodão e as lembranças todas vindas a tona no pensamento. Das vezes em que matava aula de educação física, só para ficar olhando o céu azul claro, mesmo sem nuvens, e ver dentro do azul mais azul várias bacteriazinhas brancas, como se fossem brilhos de desenhos dos jardins de infância; os pequenos brilhantes, fitava-os por horas a fio, com alegria de jogo ganho. Ouvir o outro dizer. Ouvir o vento lhe dizer com assobios assanhados e doces.. dizer que não precisa de nada disso que achava que precisava.. que é mais simples do que parece.. como um sinal verde e outro vermelho, como as patas do cavalo de lata correndo no asfalto que tem uma árvore florida em cima, flores roseadas balançando sua delicadeza extrema na contramão do vento bruto sem despetalar. Alguém causou tudo isso.. é assim que acontece, quando não se pode dormir, aceitar que não se pode é melhor que ignorar.. resta então esperar até ter condição de dormir.

(será que virá mais?)

Um comentário: